quarta-feira, 17 de abril de 2024

Bem-Aventurado o devotado adorador em seu louvor

 Por Jânsen Leiros Jr.

 

 
"1Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. 3Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.

4Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.”

Salmos 1:1-6 - ARA

Compreender os conceitos de devoção, adoração e louvor parece ser essencial para uma vida espiritual vibrante e significativa. Essas práticas estão intrinsecamente ligadas à relação com Deus e são fundamentais na expressão da fé e devoção a Ele. Por esta razão precisamos introduzir cada um desses conceitos, destacando suas pertinências, relevâncias e expressões dentro da fé cristã, compreendendo o papel de cada um na comunhão com o Pai.

Devotando

Definida como uma profunda dedicação ou compromisso com algo ou alguém, a devoção, em um contexto espiritual, refere-se à entrega total a Deus, consequentemente manifestada em ações, pensamentos e emoções. A devoção envolve um amor fervoroso e uma busca constante por uma comunhão ativa com o Criador.

Na Bíblia, encontramos inúmeros exemplos de indivíduos devotos a Deus, como o Rei Davi, que é descrito como um homem segundo o coração de Deus (Atos 13:22), e Maria, irmã de Lázaro, que escolheu a melhor parte ao se assentar aos pés de Jesus para ouvir sua palavra (Lucas 10:39). Esses exemplos nos inspiram a uma devoção semelhante, colocando Deus no centro de nossas vidas e priorizando nosso relacionamento com Ele sobre todas as coisas.

Aqui se faz necessário aprofundar um pouco a questão. É muito comum que a devoção seja entendida como um estilo de vida, em que introduzimos hábitos e rotinas que expressem devoção em comportamento piedoso. Acontece que a devoção é muito mais que isso, ao mesmo tempo que muito menos que uma lista de condutas assumidas, que se ocupe em mimetizar exemplos bíblicos.

Há um trecho na Bíblia em que podemos notar a simplicidade conceitual da devoção, ainda que aponte para questões infinitamente profundas. Podemos encontra-lo logo que abrimos o Livro dos Salmos. O capítulo primeiro explicitamente apresenta o que é a vida de um devoto em comparação com a de um ímpio. E nesse caso, é muito comum colocarmos foco naquilo que o devoto bem-aventurado não faz. “Não anda... não se detém... e nem se assenta...”. À primeira vista entendemos que quem quer denotar devoção, não isso, não aquilo e nem aquilo outro. Não pode, não deve e nem faz. Não, não e não, entendendo a devoção como um rito ordenado de abstinências; uma lei. Mas o texto segue, e então revela, aí sim, o que é um reflexo genuíno da devoção; “Antes (ao invés disso), o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Notemos que pelo estilo da poesia, os nãos vieram na frente. Porém o bem-aventurado não faz isso ou aquilo porque o seu prazer é outro. E não é uma prática autoimposta ou uma regra a cumprir. É algo que faz por prazer e tem prazer porque é devotado. Assim como prazerosamente fazemos tudo por alguém que amamos. Sem regra ou sentimento de dever, mas por prazer; espontâneo e feliz porque nascido do amor. Logo, a devoção é uma legítima e prazerosa expressão do amor a Deus. Tudo mais acontece à reboque, pois tudo quanto ele faz será bem-sucedido. O amor não erra.

Ora, é óbvio que um coração devotado como compreendemos acima, se esforçará em santidade, se manterá em incessante oração, se ocupará com alegria na leitura e meditação na Palavra de Deus, praticando justiça e misericórdia ao próximo, em piedosa submissão à vontade de Deus. É uma vida que reflete uma entrega total, no desejo incondicional e sincero de honrá-Lo em tudo o que fazemos ou pensamos.

Adorando

Já adoração é uma atitude reverente a Deus. Um ato genuflexo daquele que reconhece Sua grandeza, soberania e bondade. É uma resposta natural e consequente ao reconhecimento da glória e majestade do Senhor, que nos inspira e nos impulsiona a inclinar o coração a Ele. A adoração vai muito além de meras palavras ou rituais externos; é uma ato voluntário do coração, que expressa o profundo amor e reverente temor a Deus.

A Bíblia ensina que somos chamados a adorar a Deus em espírito e em verdade (João 4:23-24), o que significa que nossa adoração deve ser sobretudo sincera, vinda do íntimo do nosso ser. Ela pode se manifestar de várias formas, incluindo cânticos de louvor, orações de gratidão, danças, expressões artísticas, oferta de sacrifícios de louvor e serviços ao próximo. Mas não só assim, pois há na bíblia, ainda, atos de adoração surgidos na dor, na angústia e até na tristeza. No mais profundo e verdadeiro reconhecimento de sua graça, cuidado e socorro. Um coração contrito e quebrantado também adora, e há diversos salmos que revelam isso.

Louvando

Por sua vez, o louvor é a expressão visível e sensorial da adoração que envolve exaltar e glorificar o Senhor por Suas maravilhas e feitos poderosos. É uma resposta jubilosa ao amor, bondade e fidelidade de Deus em nossas vidas, e é uma parte essencial da vida espiritual, quer individual, quer coletiva, em uma comunidade de adoradores.

Na Bíblia, encontramos inúmeras passagens que nos exortam a louvar a Deus com cânticos, instrumentos musicais e danças (Salmos 150:1-6). O louvor não apenas glorifica a Deus, mas também edifica e fortalece os crentes, lembrando-nos dos maravilhosos feitos do Senhor. O que fortalece nossa fé e confiança n'Ele.

O louvor, portanto, é a resposta natural do reconhecimento do caráter e das obras de Deus e é uma parte ativa, presente e por assim dizer inevitável em uma vida de comunhão com Ele. Afinal, não fala a boca do que o coração está cheio?

Conclamando

Seguindo nessa linha de pensamento, parece que a sequência devoção, adoração e louvor não foi assim disposta por acaso. Um coração devotado cujo prazer está intimamente ligado a Deus, O adora com sinceridade, e expressa isso em diferentes forma de louvor, quer sozinho, quer imerso na comunidade de verdadeiros adoradores. Devoção, adoração e louvor são elementos essenciais da vida espiritual do crente, que jamais deve se realizar por imposição ou velado sacrifício. Essas práticas devem ser consequentes reflexos de um relacionamento significativo com o nosso Criador; meu Senhor e meu Deus.

Que a devoção que arde em nossos corações nos oriente na entrega, na adoração e no louvor, para que o meu e o seu canto sejam sempre agradáveis a Ele.

sábado, 23 de março de 2024

Adoração e Louvor nos Salmos - Uma Introdução

 Por Jânsen Leiros Jr.

 

  "O Livro dos Salmos, visto meramente como uma composição poética, tem sido objeto de nossa mais viva atenção. Homens dos mais refinados e apurados pendores têm com frequência se dedicado ao estudo dele, partindo das belezas poéticas que lhe são abundantes, e têm admitido, neste respeito, a superioridade das alegações do mesmo. O maior de nossos poetas ingleses[1] assim se expressa acerca desses cânticos sacros: “Não só em seu divino argumento, mas na própria arte crítica da composição, eles podem facilmente ser realçados acima de todos os gêneros de poesia lírica como sendo algo incomparável.” Outro excelente erudito[2], discorrendo sobre o mesmo tema, diz: “Em sua fluência e inspiração líricas, em sua força e majestade esmagadoras, as quais parecem ainda ecoar os terríveis sons uma vez ouvidos sob as trovejantes nuvens do Sinai, a poesia das antigas e sacras Escrituras é a mais esplêndida que já incandesceu o coração humano.”

O Livro de Salmos; João Calvino – Introdução pag. 13

Edições Paracletos

 Poucos temas têm chamado mais atenção de estudiosos, teólogos e líderes religiosos da atualidade, do que adoração e louvor. Suas formas, conteúdos, origens, significados e pertinências, têm sido objeto de amplo e intenso debate, seja através de publicações, palestras, sermões ou mesmo seminários mundo afora. No Brasil, com o crescimento das igrejas onde o louvor ocupa um papel de destaque na atração e permanência de fiéis, o assunto é ainda mais relevante, promovendo discussões acaloradas e argumentações divergentes, que apontam para além das diferenças das formas, chegando mesmo à reflexão quanto a legitimidade de modelos, estilos e conteúdos teológicos.

 Algumas questões têm contribuído para o acirramento das discussões, e me parece necessário pontuá-las, para que a importância do tema não seja banalizado como mera celeuma sobre qual a cor de tinta é ideal para a fachada do muro da igreja. Assim, podemos destacar:

 Diversidade de Práticas

O crescimento e a diversificação das igrejas e tradições religiosas, surgiram diferentes abordagens e práticas de adoração e louvor. Isso provocou debates sobre qual é a forma "correta" ou mais apropriada de adorar a Deus, levando em consideração aspectos como estilo musical, liturgia, forma de culto e questões afins.

 Mudanças Culturais

A sociedade passou por mudanças culturais significativas, afetando também as expressões de adoração e louvor nas comunidades religiosas. Questões relacionadas à contextualização, relevância cultural e impacto da música e da arte na adoração têm sido amplamente discutidas.

 Teologia da Adoração

As discussões sobre adoração muitas vezes estão ligadas a questões teológicas mais amplas, como a natureza de Deus, o propósito da adoração, e a relação entre o sagrado e o secular. Com isso as atenções se voltam para a importância da adoração na vida espiritual, sua relação com outras práticas religiosas e seu papel na formação da identidade religiosa.

Tecnologia e Mídia

        O avanço da tecnologia e o uso de mídias sociais têm impactado a forma como a adoração e o louvor são realizados e experimentados. Questões relacionadas à utilização de instrumentos musicais modernos, projeção de letras de músicas, transmissão ao vivo de cultos e outras práticas, têm gerado questionamentos sobre como conciliar tradição e inovação na adoração.

Conflitos Doutrinários

Por fim, em algumas comunidades religiosas, especialmente aquelas com diferentes correntes teológicas, têm surgido conflitos doutrinários relacionados à adoração e ao louvor. Questões como a ênfase na experiência emocional versus a profundidade teológica, a primazia da música contemporânea versus os hinos tradicionais, e a interpretação das Escrituras relacionadas à adoração, têm sido pontos de permanente discordância.

Resumindo, mas longe de minimizar a tensão sobre o assunto, o debate sobre adoração e louvor reflete a complexidade e diversidade da experiência religiosa contemporânea, bem como as mudanças culturais, tecnológicas e teológicas que caracterizam a sociedade moderna.

 UTILIZANDO SALMOS COMO PILAR

 No embalo do processo, portanto, considerei oportuno desenvolver com minhas turmas, uma série de estudos sobre o tema, propondo uma abordagem o mais afastada possível dos embates, porém sem jamais deixar de nos posicionarmos, quando necessário, sobre quaisquer questões pertinentes ao tema tão controverso.

E para que nossos estudos utilizassem um caminho que entendo menos acidentado e livre de armadilhas como achismos e preconceitos, decidimos refletir sobre Adoração e Louvor, baseando nossas compreensões no que o Livro de Salmos nos sugere ser a base de uma adoração legítima e aceitável, e um louvor pra lá de inevitável, diante do espanto que a generosa revelação de Deus provoca no coração adorador, nas mais diferentes circunstâncias e tempos da vida.

O Livro de Salmos, um dos mais lidos de todo o conjunto bíblico, e conhecido por sua profusão em manifestações da alma humana, é atribuído a diversos autores, como Davi, Asafe, os filhos de Corá e outros. Esses salmos foram compostos em diferentes contextos históricos e refletem uma variedade de emoções, como alegria, gratidão, tristeza, arrependimento, confiança e esperança. A diversidade de temas e sentimentos encontrados nesse livro, torna-o atraente, acessível e sobretudo relevante, para pessoas de todas as épocas e culturas, uma vez que aborda de maneira franca as experiências universais mais profundas e reais da humanidade.

Além de amplamente utilizado na adoração coletiva, os Salmos também desempenham papel primordial na inspiração à espiritualidade individual dos crentes. Quer servindo como um guia para a oração pessoal, quer de provocação à meditação, o texto de Salmos incentiva os indivíduos a se voltarem para Deus em todos os aspectos de suas vidas. Com palavras de encorajamento para enfrentar os desafios da vida, consolo em tempos de sofrimento e esperança para o futuro, os salmos oferecem amplitude de realidades vivenciadas com Deus, capazes de acolher a todos, em quaisquer circunstâncias.

Além de extremamente importante na tradição religiosa, os Salmos também têm sido objeto de estudo e reflexão por parte de teólogos, acadêmicos e líderes espirituais ao longo dos séculos. Sua riqueza poética, profundidade espiritual e relevância universal, somadas às profundas verdades teológicas sobre a natureza de Deus, a condição humana e a relação entre ambos, seguem intrigando e desafiando estudiosos da Bíblia até hoje.

            Particularmente, penso que o traço de profunda sinceridade dos salmistas explicitadas em suas declarações sem qualquer pudor ou reservas, tornam seus textos empáticos e amplamente acolhedores aos mais diversos leitores mundo afora. Longe de serem apenas registros de formas e ritos de culto e louvor, os salmos apresentam corações rasgados, dispostos e disponíveis, entregues, espantados, devotados e rendidos, diante da confrontação de suas miserabilidades pessoais, com a majestade, santidade, misericórdia e amor de Deus, o que, em última análise, ajuda a criar profunda conexão emocional entre criatura e criador.

DIVERSOS ESTILOS POÉTICOS

Outro aspecto muito presente no livro de Salmos, que certamente contribui para seu conteúdo atraente, extremamente popular e encantador, é a diversidade de estilos literários e arquitetura poética, com que aborda variadas verdades intrínsecas ao ser humano e sua carência por Deus, bem como os atributos Divinos revelados na relação com sua criação. Como estilos literários predominantes nos Salmos podemos citar:

Hinos de Louvor e Adoração

Muitos salmos são hinos que exaltam e glorificam a Deus, expressando gratidão, louvor e adoração por Suas obras e atributos. Eles geralmente apresentam uma estrutura lírica e repetitiva, com refrões e versos que destacam os atributos e feitos de Deus. Um exemplo clássico desse estilo é o Salmo 100, que diz: "Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras". Também conhecido como "Salmo da gratidão", é um dos textos mais conhecidos e amados da Bíblia. Ele é breve, mas poderosamente inspirador em sua mensagem de adoração e louvor a Deus.

Lamentações e Súplicas

Outros salmos são expressões de lamentação, onde os salmistas clamam a Deus em tempos de aflição, sofrimento ou perseguição. Esses salmos frequentemente apresentam uma estrutura de lamentação, na qual o salmista clama a Deus por ajuda e conforto. Um exemplo bem conhecido é o Salmo 22, onde o salmista clama: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras do meu bramido?". Este salmo, inclusive, é repetido por Jesus na cruz, nos instantes que antecedem a sua morte.

Salmos de Ação de Graças

Há salmos que expressam gratidão, louvor e reconhecimento a Deus por Suas bênçãos, bondade e fidelidade demonstradas na vida do salmista ou do povo de Israel. Esses salmos geralmente seguem um padrão comum, onde o autor relata uma experiência de livramento, provisão ou intervenção divina. O Salmo 103 é um exemplo notável desse estilo, onde o salmista proclama: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome".

Salmos de Confiança e Esperança

Também existem salmos que enfatizam a confiança do salmista na fidelidade e proteção de Deus, mesmo em meio às dificuldades. Eles expressam fé na fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas e na certeza da Sua intervenção salvadora. O Salmo 23 é um exemplo emblemático desse estilo, onde o salmista declara: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará".

Salmos de Sabedoria e Ensino

Alguns Salmos fornecem instruções práticas para viver uma vida de retidão e sabedoria diante de Deus. Eles oferecem conselhos práticos para uma vida piedosa e justa diante de Deus e dos homens. Um exemplo é o Salmo 1, que contrasta o caminho do justo com o do ímpio, declarando: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios".

O CARÁTER ÉTICO DOS SALMOS

O Livro dos Salmos apresenta, embora seja um compêndio de poesia hebraica, um impressionante conteúdo de caráter ético que permeia suas composições de diversas maneiras, refletindo os valores morais e a relação do homem com Deus e com o próximo. Exploraremos resumidamente estes conteúdos, apenas de forma introdutória, baseando-nos em algumas referências bíblicas e acadêmicas para uma compreensão mais ampla.

Relação com Deus

Muitos Salmos expressam uma profunda devoção e confiança em Deus, destacando a importância da fé, da obediência e da reverência ao Criador. Essa confiança em Deus como guia e protetor reflete um princípio ético de dependência e submissão à vontade divina.

Justiça e Retidão

Os Salmos frequentemente abordam temas de justiça e retidão, incentivando os fiéis a viverem de acordo com os preceitos divinos. No Salmo 15, por exemplo, o salmista descreve as qualidades do verdadeiro adorador, destacando a importância da integridade, da honestidade e do respeito ao próximo como aspectos fundamentais da conduta ética: "Aquele que não difama com a sua língua, que não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu próximo" (Salmo 15:3).

Compaixão e Solidariedade

Além disso, os Salmos também enfatizam a importância da compaixão e solidariedade para com os necessitados e oprimidos. No Salmo 41, o salmista fala sobre a bênção reservada para aqueles que ajudam os pobres: "Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal" (Salmo 41:1). Essa atitude de generosidade e empatia reflete um princípio ético de amor ao próximo e cuidado com os menos favorecidos.

Arrependimento e Perdão

Outro aspecto ético dos Salmos é a ênfase no arrependimento e no perdão. Muitos Salmos são expressões de contrição e busca por restauração após o pecado. No Salmo 51, por exemplo, o rei Davi clama a Deus por misericórdia e perdão após ter cometido adultério e homicídio: "Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias" (Salmo 51:1). Esse reconhecimento da própria falibilidade e a busca por perdão demonstram um compromisso ético com a humildade e a busca pela retidão moral.

Louvor e Gratidão

Por fim, os Salmos também ensinam que louvor e gratidão são expressões fundamentais da vida ética. Agradecer a Deus por Suas bênçãos e maravilhas é uma forma de reconhecer Sua bondade e fidelidade. A atitude de reconhecimento e adoração reflete uma postura ética de humildade e gratidão perante Deus.

                 Ao longo dos capítulos desta série, exploraremos mais profundamente os conceitos de adoração e louvor, o que são e como se desenvolvem, sempre sustentando nossos argumentos primordialmente no texto de Salmos. Procuraremos entender o louvor como sequência natural de uma vida de adoração, e esta consequência da devoção, entrega e disponibilidade daquele que vive para agradar a Deus. Nos aprofundaremos no caráter ético dessa adoração, e o papel transformador que exerce em nós.


[1] John Milton é conhecido por suas habilidades poéticas e por sua profunda erudição em questões teológicas, políticas e filosóficas. Ele foi um importante defensor do movimento puritano na Inglaterra e se envolveu ativamente nos eventos políticos e religiosos de sua época. Sua obra reflete suas crenças religiosas, sua visão política e suas reflexões sobre temas como o livre-arbítrio, a natureza do bem e do mal, e a relação entre Deus e a humanidade.

[2] Ele é mais conhecido por sua obra teológica e por seu papel como autoridade religiosa em sua época. Sandford escreveu diversos tratados teológicos e obras sobre assuntos religiosos, contribuindo para o debate teológico e ético de sua época.

Além de suas contribuições como teólogo, Sandford também foi um influente líder religioso, desempenhando papéis importantes na hierarquia da Igreja Anglicana. Ele foi nomeado bispo de Edimburgo em 1806, onde serviu até sua morte em 1838.