terça-feira, 30 de abril de 2024

Devoção sem oração? Enganação

Por Jânsen Leiros Jr.

 

 

"6 Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica, com ações de graças; 7 e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.

Filipenses 4:6-7

 

A Importância da Oração na Vida Espiritual

A oração é um elemento fundamental na vida espiritual de todo indivíduo que busca um relacionamento genuíno com Deus. Ela não apenas nos permite comunicar nossos desejos, preocupações e agradecimentos a Ele, mas também estabelece um diálogo profundo e pessoal com o Criador.

Na obra "O Poder da Oração"[1], o renomado teólogo E.M. Bounds explora profundamente o papel transformador e vital da oração na vida do cristão. Ele argumenta que a oração é uma ferramenta poderosa dada por Deus para que os crentes se comuniquem com Ele, busquem Sua orientação, experimentem Sua presença e recebam Suas bênçãos.

A experiência da devoção na oração não é apenas um exercício religioso. É antes um privilégio e uma necessidade para todo coração piedoso. A oração é o meio pelo qual os crentes crescem espiritualmente, enfrentam seus desafios, resistem às tentações e participam ativamente do plano de Deus para suas vidas e para o mundo.

Oração como Diálogo com Deus

A oração, como ensinada por Jesus Cristo e praticada pelos fiéis ao longo dos séculos, é essencialmente um diálogo com Deus, uma comunicação direta entre o homem e o divino. Nesse diálogo, não apenas expressamos nossos pensamentos mais íntimos, mas também nos abrimos para receber orientação, consolo e fortalecimento espiritual do Pai celestial. É um momento de comunhão profunda, onde nossa alma se derrama diante de Deus, buscando alinhar nossos planos e pretensões à sua soberana vontade.

É importante entender que a oração vai muito além de uma simples lista de pedidos ou demandas. Embora seja legítimo trazer nossas necessidades diante de Deus, a oração é mais que isso. É uma conversa sincera, reverente e pessoal com o Senhor, onde expressamos gratidão, devoção e confiança nele. É um momento de entrega total, onde nos rendemos à sua soberania, reconhecendo sua bondade, sabedoria e poder.

A Oração como Causa e Efeito da confiança

A relação entre a oração e a confiança é profunda e intrínseca. A oração, como um ato de comunicação direta com Deus, é tanto causa quanto efeito da confiança que depositamos n’Ele. Quanto mais confiamos em Deus, mais naturalmente nos voltamos para ele em oração. E quanto mais oramos, mais nossa confiança n’Ele se fortalece.

Uma vida de oração é essencial à maturidade cristã. Quando nos dedicamos regularmente à oração, experimentamos real transformação. Através da interação com o Senhor, somos fortalecidos, consolados e capacitados a enfrentar os desafios da vida com fé e confiança. E é bom ressaltarmos que confiar em Deus não significa fugir das dificuldades, mas sim a certeza de que ele está conosco em meio a toda e qualquer adversidade.

Algumas pessoas costumam perguntar sobre o tempo ideal que devem dedicar à oração dia a dia. Particularmente gosto muito da orientação de Paulo quando diz “orai sem cessar[2]”. Na prática, significa dizer que jamais devemos encerrar nossas orações, vivendo continuamente interagindo com o Pai a cada instante de nosso dia.

Exploração dos Salmos como Modelos de Oração

Os Salmos, como parte inspirada da Escritura, servem como exemplos preciosos de orações pessoais. Eles abrangem uma ampla gama de emoções humanas, desde alegria e louvor até dor e angústia, oferecendo-nos modelos para expressão de nossos próprios sentimentos a Deus.

Dentro dos Salmos, encontramos exemplos ricos de orações que podemos incorporar em nossa vida espiritual. O Salmo 23, por exemplo, nos lembra da provisão e proteção constante de Deus em nossas vidas, enquanto o Salmo 51 nos conduz ao arrependimento sincero e à busca pelo perdão divino. Cada Salmo reflete uma experiência única e genuína de comunhão com Deus e nos inspira a buscar uma conexão mais profunda com Ele em nossas orações.

Na prática, devoção sem oração é vazia e demonstração frívola de religiosidade aparente. Por outro lado, a oração sem devoção legitima não passa de vãs repetições. Todo o texto bíblico nos convida a derramar nossos corações diante de Deus com confiança e humildade, expressando nossos mais profundos anseios, crendo em Sua graça e misericórdia. Que o Senhor nos ensine a orar sem cessar, exercitando e experimentando a plenitude da comunhão com o nosso Pai e Criador.



[1] A obra "O Poder da Oração" foi escrita por Edward McKendree Bounds, mais conhecido como E.M. Bounds. Ele foi um ministro metodista norte-americano do século XIX, conhecido por seus escritos sobre oração e vida devocional. A primeira edição foi publicada em 1920, após a sua morte.

[2] 1 Tessalonicenses 5:17

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Bem-Aventurado o devotado adorador em seu louvor

 Por Jânsen Leiros Jr.

 

 
"1Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. 3Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.

4Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.”

Salmos 1:1-6 - ARA

Compreender os conceitos de devoção, adoração e louvor parece ser essencial para uma vida espiritual vibrante e significativa. Essas práticas estão intrinsecamente ligadas à relação com Deus e são fundamentais na expressão da fé e devoção a Ele. Por esta razão precisamos introduzir cada um desses conceitos, destacando suas pertinências, relevâncias e expressões dentro da fé cristã, compreendendo o papel de cada um na comunhão com o Pai.

Devotando

Definida como uma profunda dedicação ou compromisso com algo ou alguém, a devoção, em um contexto espiritual, refere-se à entrega total a Deus, consequentemente manifestada em ações, pensamentos e emoções. A devoção envolve um amor fervoroso e uma busca constante por uma comunhão ativa com o Criador.

Na Bíblia, encontramos inúmeros exemplos de indivíduos devotos a Deus, como o Rei Davi, que é descrito como um homem segundo o coração de Deus (Atos 13:22), e Maria, irmã de Lázaro, que escolheu a melhor parte ao se assentar aos pés de Jesus para ouvir sua palavra (Lucas 10:39). Esses exemplos nos inspiram a uma devoção semelhante, colocando Deus no centro de nossas vidas e priorizando nosso relacionamento com Ele sobre todas as coisas.

Aqui se faz necessário aprofundar um pouco a questão. É muito comum que a devoção seja entendida como um estilo de vida, em que introduzimos hábitos e rotinas que expressem devoção em comportamento piedoso. Acontece que a devoção é muito mais que isso, ao mesmo tempo que muito menos que uma lista de condutas assumidas, que se ocupe em mimetizar exemplos bíblicos.

Há um trecho na Bíblia em que podemos notar a simplicidade conceitual da devoção, ainda que aponte para questões infinitamente profundas. Podemos encontra-lo logo que abrimos o Livro dos Salmos. O capítulo primeiro explicitamente apresenta o que é a vida de um devoto em comparação com a de um ímpio. E nesse caso, é muito comum colocarmos foco naquilo que o devoto bem-aventurado não faz. “Não anda... não se detém... e nem se assenta...”. À primeira vista entendemos que quem quer denotar devoção, não isso, não aquilo e nem aquilo outro. Não pode, não deve e nem faz. Não, não e não, entendendo a devoção como um rito ordenado de abstinências; uma lei. Mas o texto segue, e então revela, aí sim, o que é um reflexo genuíno da devoção; “Antes (ao invés disso), o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Notemos que pelo estilo da poesia, os nãos vieram na frente. Porém o bem-aventurado não faz isso ou aquilo porque o seu prazer é outro. E não é uma prática autoimposta ou uma regra a cumprir. É algo que faz por prazer e tem prazer porque é devotado. Assim como prazerosamente fazemos tudo por alguém que amamos. Sem regra ou sentimento de dever, mas por prazer; espontâneo e feliz porque nascido do amor. Logo, a devoção é uma legítima e prazerosa expressão do amor a Deus. Tudo mais acontece à reboque, pois tudo quanto ele faz será bem-sucedido. O amor não erra.

Ora, é óbvio que um coração devotado como compreendemos acima, se esforçará em santidade, se manterá em incessante oração, se ocupará com alegria na leitura e meditação na Palavra de Deus, praticando justiça e misericórdia ao próximo, em piedosa submissão à vontade de Deus. É uma vida que reflete uma entrega total, no desejo incondicional e sincero de honrá-Lo em tudo o que fazemos ou pensamos.

Adorando

Já adoração é uma atitude reverente a Deus. Um ato genuflexo daquele que reconhece Sua grandeza, soberania e bondade. É uma resposta natural e consequente ao reconhecimento da glória e majestade do Senhor, que nos inspira e nos impulsiona a inclinar o coração a Ele. A adoração vai muito além de meras palavras ou rituais externos; é uma ato voluntário do coração, que expressa o profundo amor e reverente temor a Deus.

A Bíblia ensina que somos chamados a adorar a Deus em espírito e em verdade (João 4:23-24), o que significa que nossa adoração deve ser sobretudo sincera, vinda do íntimo do nosso ser. Ela pode se manifestar de várias formas, incluindo cânticos de louvor, orações de gratidão, danças, expressões artísticas, oferta de sacrifícios de louvor e serviços ao próximo. Mas não só assim, pois há na bíblia, ainda, atos de adoração surgidos na dor, na angústia e até na tristeza. No mais profundo e verdadeiro reconhecimento de sua graça, cuidado e socorro. Um coração contrito e quebrantado também adora, e há diversos salmos que revelam isso.

Louvando

Por sua vez, o louvor é a expressão visível e sensorial da adoração que envolve exaltar e glorificar o Senhor por Suas maravilhas e feitos poderosos. É uma resposta jubilosa ao amor, bondade e fidelidade de Deus em nossas vidas, e é uma parte essencial da vida espiritual, quer individual, quer coletiva, em uma comunidade de adoradores.

Na Bíblia, encontramos inúmeras passagens que nos exortam a louvar a Deus com cânticos, instrumentos musicais e danças (Salmos 150:1-6). O louvor não apenas glorifica a Deus, mas também edifica e fortalece os crentes, lembrando-nos dos maravilhosos feitos do Senhor. O que fortalece nossa fé e confiança n'Ele.

O louvor, portanto, é a resposta natural do reconhecimento do caráter e das obras de Deus e é uma parte ativa, presente e por assim dizer inevitável em uma vida de comunhão com Ele. Afinal, não fala a boca do que o coração está cheio?

Conclamando

Seguindo nessa linha de pensamento, parece que a sequência devoção, adoração e louvor não foi assim disposta por acaso. Um coração devotado cujo prazer está intimamente ligado a Deus, O adora com sinceridade, e expressa isso em diferentes forma de louvor, quer sozinho, quer imerso na comunidade de verdadeiros adoradores. Devoção, adoração e louvor são elementos essenciais da vida espiritual do crente, que jamais deve se realizar por imposição ou velado sacrifício. Essas práticas devem ser consequentes reflexos de um relacionamento significativo com o nosso Criador; meu Senhor e meu Deus.

Que a devoção que arde em nossos corações nos oriente na entrega, na adoração e no louvor, para que o meu e o seu canto sejam sempre agradáveis a Ele.